segunda-feira, 27 de junho de 2011

'' O ENCONTRO''


LARA BORGES, CHARLES TROCATE E VALDIRENE OLIVEIRA

Dias difíceis
(Para João Paulo Santos)

Os dias estão difíceis e não há reparação nisso.
Emoldurado no tempo dispenso a morte
Cavo nos olhos da política a palavra desagradável.
Enfrento com poesia a estupidez até expor
O brilho dessa emoção diária - lutar.

Quero a repartir entre nós este abraço fraterno
A carne que brame em seu covil
e nesta voz não remida desdizer a fome.

Arrasto do mar a lírica e na noite condenso
o grito suado na garganta. A fé, contudo,
irrompe corpo e idéia.



Manifesto à lei
Para Diassis Soledade


Nesses dias tão difíceis o que vale
um homem e seu coração?
É perigoso demais sonhar (diz a lei)
mas para o trabalho nos roubam as mãos.

O homem caminha até seu limite
E não há riso, não há festa no olhar:
só o rude o sol sobre a pele!

O mais simples dos gestos
Foi pisoteado pelo som da miséria
Digo sem silêncio e com nojo das siglas uniformes
- neoliberalismo, mercado, burguesia, guerra, governo,
policia, juiz, burocrata, monopólio, presidente, senador,
governador, deputado etc etc...

Ah!
Imperialismo, voto, eleição, democracia!
A revolta terá meu nome!

Repito como aprendi na infância
A revolta terá meu nome!

Cotidiano
Para Lidenilson

Escavo profundezas no coração do tempo.
É quase horizonte meu gesto.
Com ele tenho caminhado
sem deixar a exaustão alojar-se
onde mais humano sou

Cavo no chão o assunto do amor;
Com ele aprendi a residir na pele da noite
com a bandeira da vida.

Sim. É preciso caminhar:
enfrentar o dragão que insulta
o pão que ponho à mesa com o músculo da luta
a genial invenção da felicidade





Devastado

Não se faz poema assim,
com cisco no olho
estaca no coração
Estranhamente devastado pela dor.

Não se vive assim!

Não assisto meu tempo passar.
Duelo no mínimo todo dia
e no máximo amo!

É assim?


RessôoA Elde Monteiro

Ao pé da árvore coloco toda sujeição dos versos
Não sei fragmentar-lhes os músculos
Nem supor romantismo nas pétalas do dia.

Alguém cortou essa árvore e sua política
fez do assombro os móveis da sala ingovernada.
Alguém mesmo me disse um dia:
“A beleza está a ermo e sem aparência.”

Ao pé da árvore deixei os livros e suas maturações
E escuto um tom. Quanta festividade tem a pele do palhaço
O estômago, os pés e a falência?

Ao pé da árvore enterro os mortos
que tremulam em meu peito.
Suas ciências, porém, continuam atadas ao sol,
morando neste endereço oblíquo.

À meia-noite

A Eli


Que ciência tem a brincadeira da flor
Em transformar-se em cor?
Quem terá o coração férvido
Quando esse estalo chegar?

O mundo pela palavra te cheira
A língua pela circunstância lambe o sol
O que cinde a vida é esse segredo.
Dei-me o coração dos fatos
A rima faceira de tuas mãos...

Voar é isso:
cair de dentro do assunto do amor,
o que se acumulou.
Permitir o que vale e sobra e resulta da vida
que reportamos depressa.
Poemas de charles trocate.

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