terça-feira, 7 de junho de 2011

07/06/2011

07/06/2011
 Mais de oito mil acampados ao redor do Incra em Marabá

A audiência que aconteceria nesta segunda-feira (6), na Vara Agrária de Marabá, foi adiada para o dia 7 de julho. Na ocasião, seria decidido o destino de centenas de famílias ligadas ao MST acampadas nas fazendas Cedro e Fortaleza, em Marabá; Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás; e Porto Rico, em Curionópolis. Todas pertencentes ao Grupo Santa Bárbara. Conclusão: as famílias permanecem acampadas ao redor da Superintendência Regional do Incra.
Entretanto, o número de acampados começou a crescer desde ontem, quando centenas de outros camponeses de vários municípios do sul e sudeste do Estado começaram a chegar a Marabá, a fim de pressionar a direção nacional do Incra a  apreciar uma pauta de reivindicações enviada para Brasília (DF) há cerca de duas semanas. A expectativa é de que até sábado (11) 10 mil pessoas estejam acampadas.
Esse número se deve à união da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Pará (Fetraf) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), há 27 dias acampados no local. Até ontem, segundo a Fetagri, mais de 8 mil pessoas já estavam acampadas às proximidades do Incra, em Marabá.

Antônio Carlos, secretário agrário da Fetagri, diz que os manifestantes esperam que os órgãos competentes tenham mais respeito por eles. “Hoje tem sido uma peculiaridade a demora em termos de desapropriação. Demora essa que vem desde a vistoria”, ressaltou, continuando: “É incrível. Não anda nada”. Ele pontua também que questões como instalação, habitação, saúde, entre outros são levadas num processo de lentidão absurdo.
“A gente precisa dar uma alavancada”, sublinhou, lembrando que o movimento tem estado quieto até hoje. Por isso, salienta a necessidade de o movimento voltar a se manifestar, motivo do acampamento ao redor da sede do Incra.
“Todos os processos que temos no Incra estão emperrados. Nunca mais saiu Pronaf, só teve crédito habitação e de uma maneira difícil”, gesticulou, esclarecendo que o recurso destinado à construção da moradia do pessoal tem atrasado até mais de ano. Assim, a falta da estrutura que beneficiaria as famílias do campo está sendo um dos pontos críticos que causou a manifestação da classe.
 “Todas as estradas que foram feitas já estragaram. O inverno nessa região é muito pesado. Com cinco anos as estradas já acabaram”, observou, acentuando que não há recursos para a recuperação destas. “Ou vem alguém de Brasília com poder de caneta para resolver essa questão ou então a gente vai aguentar aqui por um bom tempo”, ameaçou.
Ameaça “A Fetraf, Fetagri e MST estão juntos porque a dor agora doeu em todo mundo”, justificou, esclarecendo, quando questionado como se dará a manifestação, que alguns membros buscarão negociar em Brasília, enquanto outros o farão em Belém e outros ainda aqui, em Marabá. “Se não der certo só conversando, a gente vai para rua. Não tem outra saída”. Antônio Carlos protesta porque as partes já negociam há seis anos: “Aí tem aquele tapinha no ombro, falam que vão resolver e não estão resolvendo”.
MST afirma que não tem data para sair A Reportagem do CT questionou Charles Costa, da coordenação do MST-Pará, sobre se o movimento está disposto a negociar com o Incra e este disse o objetivo é, sim, negociar com a instituição. “Contanto que eles atendam à nossa pauta, tudo bem. Nossa negociação é pacífica e, caso não resolvam nossa pauta, ficaremos aqui por tempo indeterminado”, corroborou, com a Fetagri, acrescentando que não pretendem invadir a sede do Incra, uma vez que isto atrasaria ainda mais os processos que estão correndo naquela casa.
Perguntado ainda a cerca das especulações de que as Forças Armadas poderiam tomar os acampamentos com o intuito de fazer um tipo de triagem naqueles lugares, Charles disse que não foi informado oficialmente a respeito do assunto. “Apesar de o Estado ter força para fazer isso, o acampamento é construído pelo MST, é uma conquista nossa. Por isso, quem coordena os acampamentos e assentamentos somos nós, coordenadores do MST”, frisou, apontando que eles teriam de ser comunicados.
“Se eles chegam lá de repente, as pessoas podem ficar assustadas. Têm de informar para nós, para nós informarmos nosso povo. Caso contrário, causaria um conflito”, observou.
Assim, perguntado ainda como o movimento analisa essa triagem, avisada com antecedência, Costa diz que tudo depende do tom da atividade a ser desenvolvida nos locais. “O povo do MST, da Fetraf e da Fetagri não se dá bem com a polícia do Estado devido o massacre em 1996, quando o povo ficou revoltado completamente com as forças armadas do Pará”, salientou.
Em nome da Fetraf, também procurado pelo jornal, Francisco Ferreira de Carvalho, o Chico da Cib, contou que só a federação já tem mais de mil famílias acampadas no Incra. Uma forma de dar ainda mais unidade ao movimento das três instituições. Ele corrobora a fala dos colegas e acrescenta que, entre as reivindicações, estão também a emissão do Licenciamento Ambiental aos trabalhadores do campo e a reestruturação humana e financeira do Incra. “Se não tiver uma equipe técnica à altura das responsabilidades, não adianta o dinheiro”, atesta.
IncraA reportagem também ouviu o superintendente do Incra, Edson Bonetti, que considera a manifestação legítima e pacífica, tendo em vista que esta não atrapalhou o trabalho dos servidores. “É um direito deles. Uma forma de chamar a atenção do governo. Além disso, o movimento vai ajudar a região”, gesticulou, informando, contudo, que o Incra tem avançado na discussão da pauta de reivindicação dos camponeses.
Ele adiantou também que há previsão de que o orçamento destinado às necessidades apontadas pelos manifestantes deva ser definido na próxima semana. Quando, também, começará a negociação com estes. (Carmem Sevilla)
FONTE PORTAL DO CORREIO DO TOCANTINS

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